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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

VALORES

 

1. INTRODUÇÃO

VALOR—Trataremos do conceito de valor num sentido filosófico geral, como conceito capital na chamada teoria dos valores, e também axiológica e estimativa. Característico desta teoria é que não somente se usa o conceito de valor, mas que se procede a refletir sobre o mesmo e a determinar a natureza e caráter do valor e dos chamados juízos de valor. Isto distingue a teoria dos valores de um sistema qualquer de juízos de valor. Semelhantes sistemas são muito anteriores à teoria dos valores propriamente dita, visto que muitas doutrinas filosóficas, desde a antiguidade, contêm juízos de valor. Muito comum foi em certas doutrinas antigas equiparar o ser com o valor, e, mais especialmente, o ser verdadeiro com o valor (Platão). A equiparação do ser com o valor não é, todavia, uma teoria dos valores.

2. DESENVOLVIMENTO

Atribui-se aos valores as seguintes características:

1. O valer na classificação dada pela teoria dos objetos, há um grupo destes que não pode caracterizar-se pelo ser, como os objetos reais e os ideais. Destes objetos diz-se que valem e, portanto, que não têm ser, mas valer. A característica do valor é o ser valente, diferentemente do ser ente. A bondade, a beleza, a santidade, não são coisas reais, mas tão poucos entes ideais. Os valores são intemporais e por isso têm sido confundidos às vezes com as idealidades, mas a sua forma de realidade não é o ser ideal nem o ser real, mas o ser valioso. A realidade do valor é, portanto, o valer.

2. Objetividade: Os valores são objetivos, quer dizer, não dependem das preferências individuais, mantendo a sua forma de realidade para além de toda a e valorização. A teoria relativista dos valores sustenta que os atos de agrado e desagrado são o fundamento dos valores. A teoria absolutista sustenta, em contrapartida, que o valor é o fundamento de todos os atos. A primeira afirma que tem valor o desejável. A segunda sustenta que é desejável e valioso. Os relativistas desconhecem a forma peculiar e irredutível de realidade dos valores. Os absolutistas chegam nalguns casos à eliminação dos problemas que a relação efetiva entre os valores e a realidade humana e histórica põe. Os valores são, segundo alguns autores, objetivos e absolutos, mas não são hipóstases metafísicas das ideias do valioso. A objetividade do valor é apenas a indicação da sua autonomia em relação a qualquer estimação subjetiva e arbitrária. A região ontológica valor não é sistema de preferências subjetivas às quais se dá o título de “coisas preferíveis”, mas tão pouco é uma região metafísica de seres absolutamente transcendentes.

3. Não independência: Os valores não são independentes, mas esta dependência não deve ser entendida como uma subordinação do valor a instâncias alheias, mas como a necessária aderência do valor às coisas. Por isso os valores fazem sempre referência ao ser e são expressos como predicações do ser.

4. Polaridade: Os valores apresentam-se sempre polarmente, porque não são entidades diferentes como as outras realidades. Ao valor da beleza contrapões-se sempre o da fealdade; ao da bondade, o da maldade; ao do santo, o do profano.

5. Qualidade: os valores são totalmente independentes da quantidade e por isso não podem estabelecer-se relações quantitativas entre as coisas valiosas.

6. Hierarquia: O conjunto de valores é oferecido numa tabela geral ordenada hierarquicamente. Esta caracterização dos valores corresponde à axiologia final, que se limita a declarar as notas determinantes da realidade estimativa. A axiologia material, em compensação, estuda os problemas concretos do valor e dos valores e em particular as questões que afetam a relação entre os valores e a vida humana, assim como a efetiva hierarquia dos valores. Cada um destes problemas recebe soluções diferentes segundo a concepção subjetiva e objetivista dos valores, segundo os valores sejam concebidos como produtos da valoração ou como realidades absolutas.

A investigação das relações entre o valor e a concepção do mundo representa um dos problemas mais espinhosos da axiologia material, pois a sua solução depende, por sua vez, em parte, da concepção do mundo vigente ou sustentada pelo investigador.

3. CONTEXTUALIZAÇÃO

Em uma sociedade onde o valer e o valor são colocados em cheque a cada instante como termos valores que nos protege e ao mesmo tempo nos conduz a vida. Às vezes delegamos à religião a função de valorar (introduzir valores) a sociedade e esquecemos que as religiões também devem observar valores que estão além das estruturas religiosas.

4. ATIVIDADES

Produzir um dissertação em grupo sobre os valores e a criação de valores em um mundo marcado pela liquidez das coisas. (Ver: Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman) A partir deste artigo os alunos podem criar um tribunal onde irão julgar os valores da nossa sociedade.

MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Lisboa, Dom Quixote: 1978.

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