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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Ideologia V

 

Outras concepções marxistas de ideologia

Nos escritos de Marx, o conceito de ideologia manteve o sentido negativo de conhecimento distorcido da realidade social. Como sua obra A ideologia alemã foi publicada postumamente e permaneceu por muito tempo desconhecida, pensadores marxistas posteriores, como Lênin - gestor da Revolução Russa de 1917 - , alargaram a abrangência do conceito.

A ideologia adquiriu um sentido positivo como conjunto de ideias elaboradas pelo proletariado e que expressam seus interesses, em contraposição à visão de mundo da classe dominante. É assim que Lênin refere-se à "ideologia comunista''.

Vejamos outros significados para o conceito.

1. Gramsci e a hegemonia


O filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937) reelaborou o marxismo ao desenvolver conceitos que evitaram
a orientação mecanicista daqueles que percebiam a classe dominada como joguete das forças produtivas. Sem negar a dominação, fortaleceu a concepção de um proletariado atuante na luta para assumir seus próprios valores, estratégia para evitar a submissão.

Para Gramsci, em um primeiro moment o a ideologia tem a função positiva de atuar como cimento da estrutura social. Quando incorporada ao senso comum, ajuda a estabelecer o consenso, conferindo hegemonia a uma determinada classe, que passará a ser dominante. Com o consentimento da classe subalterna, forma um sistema orgânico articulado por uma cultura comum, difundida pelas instituições a que já nos referimos anteriormente.

Portanto, as ideologias são orgânicas e historicamente necessárias quando "organizam as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam etc:·. Sob esse aspecto, a ideologia tem "o significado mais alto de uma concepção de mundo que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade econômica, em todas as manifestações de vida individuais e coletivas" e que tem por função conservar a unidade de todo bloco social.

Os conflitos posteriores entre burgueses e proletários exigem destes últimos a elaboração intelectual de seus próprios valores, uma vez que a ideologia vigente reflete os interesses da classe dominante, a burguesia. O proletariado precisa então de intelectuais orgânicos, assim chamados porque surgem "organicamente" a partir de suas próprias fileiras, contrapondo-se aos intelectuais tradicionais, a fim de constituírem coerentemente a concepção de mundo dos dominados. São esses intelectuais que dão ao proletariado "a consciência de sua missão histórica''. Nesse processo, Gramsci valoriza a atuação do partido, como organizador das massas.

(ARANHA, Maria Lúcia de A. e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução a filosofia. 4. ed. São Paulo : Moderna, 2009. p.125-126)

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