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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Ideologia II


Ideologia: sentido restrito (Aula 2 )

O termo ideologia foi criado no século XIX por Destutt de Tracy, filósofo e político francês, para designar uma "ciência das ideias". Com ela o autor pretendia compreender a formação das ideias numa sociedade por meio de um método semelhante ao das ciências da natureza. Seus seguidores foram chamados ideólogos por Napoleão Bonaparte, dando ao termo uma conotação pejorativa, já que rejeitava as posições políticas daquele grupo. Consultar o capítulo 6, "Trabalho, alienação e consumo".

Conceito marxista de ideologia


Para compreendermos o conceito marxista de ideologia, é preciso rever o que é alienação. Para Marx, a alienação manifesta-se na vida do operário quando o produto do seu trabalho deixa de lhe pertencer. Ao vender a sua força de trabalho, não mais decide sobre o salário, o horário e o ritmo de trabalho; e por ser comandado de fora, perde o centro de si mesmo, tornando-se "alheio'', "estranho" a si próprio, portanto alienado. Esse estado de coisas é típico de sociedades divididas em classes, em que predomina a separação entre o trabalho manual e o intelectual, nas quais os trabalhadores perdem a autonomia e se sujeitam à exploração. Por que o operário não reage a essa situação? Marx explica que a ideologia impede a tomada de consciência da alienação. Assim, a coesão social é mantida sem o recurso à violência física. Embora o conceito de ideologia já estivesse subentendido em suas primeiras obras, Marx introduziu o termo pela primeira vez em A ideologia alemã, na qual critica os filósofos hegelianos, cujas reflexões partiam de ideias. De acordo com sua concepção materialista da história, deve-se iniciar pelo exame do modo de produção capitalista para só então analisar como são produzidas as ideias nessa realidade concreta. Em que consiste portanto a ideologia segundo Marx? Ideologia é o conjunto de representações e ideias, bem como de normas de conduta, por meio das quais o indivíduo é levado a pensar, sentir e agir da maneira que convém à classe que detém o poder. Essa consciência da realidade torna-se uma distorção dela quando camufla os conflitos existentes no seio da sociedade, ao apresentá-la una e harmônica, como se todos os indivíduos partilhassem dos mesmos interesses e ideais.
Portanto, a ideologia:
  1. constitui um corpo sistemático de representações que nos "ensinam" a pensar e de normas que nos "ensinam" a agir;
  2. determina a relação entre os indivíduos e as condições de existência deles, adaptando-os às tarefas prefixadas pela sociedade;
  3. camufla as diferenças de classe e os conflitos sociais, ora concebendo a sociedade como "una e harmônica", ora justificando as diferenças existentes;
  4. garante a coesão social e a aceitação sem criticas das tarefas mais penosas e pouco recompensadoras, em nome da "vontade de Deus", do "dever moral" ou simplesmente como decorrência da "ordem natural das coisas";
  5. mantém a dominação de urna classe sobre outra.
     (ARANHA, Maria Lúcia de A. e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução a filosofia. 4. ed. São Paulo : Moderna, 2009. p.120-121)

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