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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Ideologia VII

 

Ricoeur: interpretação e ideologia


Em outra direção, Paul Ricoeur analisa os filósofos Marx, Nietzsche e Freud - "mestres da suspeita", como os denominou - ,pensadores que suspeitaram das ilusões da consciência, como vimos no capítulo anterior. Debruça-se então sobre a ideologia marxista, mas, segundo ele, para" cruzar Marx, sem segui-lo nem tampouco combatê-lo". Ao deparar-se com a noção marxista de ideologia como instrumento de dominação de uma classe sobre outra, critica-a porque o "homem da suspeita'' pensa estar isento da deformação ideológica que denuncia, como se dissesse: "a ideologia é o pensamento de meu adversário; é o pensamento
do outro. Ele não sabe, eu, porém, sei".
Portanto, Ricoeur não nega a ideologia, mas também não aceita separar ciência e ideologia como alternativas inconciliáveis, para aceitá-las como polos relacionados dialeticamente. Desse modo, o conceito de ideologia perde seu caráter depreciativo e assume um aspecto positivo de conhecimento possível.

Questionamento e conscientização


Como vimos, a ideologia está presente no cotidiano. Os produtos culturais, os bens e serviços à nossa disposição, as instituições, como escolas, fábricas, igrejas, imprensa falada e escrita etc., podem ser instrumentos de alienação quando nos passam a ilusão de que as desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais são naturais e que portanto não podemos mudá-las. Contudo, aqueles espaços em que a ideologia se manifesta são os mesmos que possibilitam aprender, refletir e mudar. É pelo esforço de conscientização, pela abertura ao questionamento que identificamos a ideologia.

(ARANHA, Maria Lúcia de A. e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução a filosofia. 4. ed. São Paulo : Moderna, 2009. p.120-121)

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