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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

RACIONALISMO I

 

Uma nova mentalidade

Em seu livro Pensamentos, Pascal diz o seguinte: O silêncio desses espaços infinitos me apavora. Essa frase explicita a angústia para quem, no século XVII, vivenciou a substituição da teoria geocêntrica - aceita durante mais de vinte séculos - pela teoria heliocêntrica. A nova teoria não apenas retirou a Terra do centro do Universo, mas também desintegrou uma construção estética que ordenava os espaços e hierarquizava o "mundo superior dos Céus" e o "mundo inferior e corruptível da Terra'. Galileu geometrizou o Universo, igualando todos os espaços. Ao descobrir a Via Láctea, contrapôs, a um mundo fechado e finito, a ideia da infinitude do Céu.


A questão, no entanto, não é apenas científica. Se fosse, Galileu não teria sido obrigado a retratar-se publicamente e abjurar sua teoria nem recolhido a prisão domiciliar. Há algo mais que se quebra, além da ordem cósmica, cujas causas antecedem a esse período. Examinando o contexto histórico em que ocorreram
transformações tão radicais, percebemos que elas não se desligavam de outros acontecimentos igualmente marcantes, que se configuravam desde o século anterior: surgimento da burguesia; desenvolvimento da economia capitalista;

Revolução Comercial; renascimento das artes, das letras e da filosofia. Desse modo, nasce um novo indivíduo, confiante na razão e no poder de transformar o mundo. Uma explicação possível para justificar a mudança ocorrida é que a nova classe comerciante, constituída pelos burgueses, impôs-se pela valorização do trabalho em oposição ao ócio da aristocracia.

Além disso, inventos como a bússola, o papel, a imprensa e a máquina a vapor, o aperfeiçoamento dos navios e as descobertas tornavam-se necessários para o comércio e a indústria em expansão. O renascimento das ciências no século XVII não constituiu uma simples evolução do pensamento científico, mas uma verdadeira ruptura que implicou outra concepção de saber, por conta da novidade do método instituído.

Observação: Existe um artigo de Hans Blumeberg que discute justamente a guinada moderna.

 

(ARANHA, Maria Lúcia de A. e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução a filosofia. 4. ed. São Paulo : Moderna, 2009. p.365)

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