FILOSOFIA /3º ANO/ CEPNB/23/II
UNIDADE/
Prof. Quirino
EIXO DA
UNIDADE: A POLÍTICA NOSSA DE CADA DIA
TEMA: SOBRE A DESCRENÇA NA POLÍTICA
1.
INTRODUÇÃO
Você acredita na política? Você se vê como político? Sim, por que? Não por
que?
2.
DESENVOLVIMENTO
Quirino do R Santos
Ao abordar o tema política, gostaria de
esclarecer que abordaremos política no sentido etimológico da palavra, no
sentido grego e também política a partir da compreensão popular. A primeira
pergunta que nos vem à mente é: o que é política? E automaticamente associamos
ao mandato eletivo de algum candidato, à alguma função na sociedade a partir da
política partidária. Poucas pessoas associam política a sua vida, ao seu dia a
dia.
Qual é o problema para compreendermos a
política? É epistemológico? Confesso que sou cético no que tange a segunda
pergunta. Ao abordar o conceito de política queremos aprofundar o conceito de
engajamento, que na filosofia de J. P. Sartre é de extrema importância e nos
introduz de forma concreta nossa condição de ser um político.
Este artigo em sentido estrito está
longe de esgotar uma discussão sobre o tema. Mas, iniciar uma provocação.
Segundo Aristóteles, “que o homem é um animal político em um grau muito mais
elevado que as abelhas e os outros animais que vive reunidos é evidente”.
Então, ser político é natural pra nossa
condição homo sapiens sapiens. Quando alguém em sã consciência diz que
não acredita na política talvez esteja questionando o modelo político
no nosso país. Daí surge a outra discussão o que é reforma política. E a
política tem lógica? Qual é a relação entre verdade factual e teórica na
política? Todo político é necessariamente um mentiroso? A república no Brasil
se esgotou? Porque o político no seu processo de gestão do mandato se distancia
do povo? Porque ele passa a defender a máquina estatal em vez das pessoas?
As
perguntas não estão aqui apenas para serem respondidas, mas para servirem com
combustível para o pensar. Então a política precisa ser apropriada, dominada, e
o político tem que ser visto como um empregado do povo, uma vez que o seu poder
é do povo que emana.
Segundo
Maquiavel, “a prática do político no governo deve ser diferente da prática
individual uma vez que ele deve centrar se nos melhores meios para conquistar e
manter se no poder, tendo sempre como foco a paz.” A normatividade
dos comportamentos individuais deve ser distinta do público, pois são práticas
com objetivos diferenciados.
Todas
as vezes que o povo não se vê nos seus representantes, algo de errado está
acontecendo ou já aconteceu. E aqui nós chegamos em um ponto crucial da nossa
república que é: aqueles que detém o poder não são meus representantes, então
eles representam o que? Para o mau político é um deleite um povo alienado, que
desconhece seus diretos e deveres.
Não
importa o político que coloco no poder. Quanto mais alienado é o povo mais
político corrupto são eleitos e a destruição da república é clara. Quem destrói
a república? Podemos perceber que as quatro instâncias do poder, o executivo, o
legislativo, o judiciário e o povo destroem a república em sua prática.
O povo
de forma indireta quando elege político descomprometido, corrupto, com um
currículo banhado em podridão; o legislativo quando não representa este povo e
vê se como legislador das grandes corporações, das oligarquias deste país e do
interesse de um pequeno grupo de empresário que acha que pode determinar onde e
quando o governo deve investir.
Todas
as vezes que o executivo compactua com ministro, secretários, diretores e
outros cargos em comissão corruptos revela que a república já chegou ao fim e
povo está entregue ao seu próprio destino. A república só existe se vemos a
justiça acontecer para todos os povos. Uma vez que res pública é extensão
pública da vida privada. Então quando o judiciário se corrompe através de seus
magistrados é impossível acreditar na proposta da política.
O
político e a política
Segundo
Norberto Bobbio, “o significado clássico e moderno de política. — Derivado
do adjetivo originado de pólis (politikós), que significa tudo o que se refere
à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, público, e até mesmo
sociável e social” ...
Apesar
do conceito de política e político estarem inseparáveis como podemos definir o
fim da política? Sobre isto citamos Bobbio:
“Uma
vez identificado o elemento específico da Política no meio de que se serve,
caem as definições teleológicas tradicionais que tentam definir a Política pelo
fim ou fins que ela persegue. A respeito do fim da Política, a única coisa que
se pode dizer é que, se o poder político, justamente em virtude do monopólio da
força, constitui o poder supremo num determinado grupo social, os fins que se
pretende alcançar pela ação dos políticos são aqueles que, em cada situação,
são considerados prioritários para o grupo (ou para a classe nele dominante):
em épocas de lutas sociais e civis, por exemplo, será a unidade do Estado, a
concórdia, a paz, a ordem pública, etc; em tempos de paz interna e externa,
será o bem-estar, a prosperidade ou a potência; em tempos de opressão por parte
de um Governo despótico, será a conquista dos direitos civis e políticos; em
tempos de dependência de uma potência estrangeira, a independência nacional.
Isto quer dizer que a Política não tem fins perpetuamente estabelecidos, e
muito menos um fim que os compreenda a todos e que possa ser considerado como o
seu verdadeiro fim: os fins da Política são tantos quantas são as metas que um
grupo organizado se propõe, de acordo com os tempos e circunstâncias”.
Não
existe um fim específico e universal para a política, a política deve atender
as necessidades de seu povo, o político não possui um caminho definido, cerrado
em si próprio, mas sempre aberto a situação que a sociedade convocar a
mudança.
Como
vimos em Aristóteles a política é uma atividade que é exercida com excelência
por nós humanos, porém a saturação do conceito está levando o ser humano a
apatia, ao isolamento e pouco a pouco beiramos a uma sociedade onde a lei que
prevalece é a lei de uma sociedade regida por interesses individuais.
Assim
fala ABBAGNANO sobre política: “Com esse nome foram designadas várias
coisas, mais precisamente: 1ª doutrina do direito e da moral; 2ª teoria
do Estado: 3ª arte ou a ciência do governo; 4ªo estudo dos comportamentos
intersubjetivos”.
Quando
o político defende a máquina estatal
Um dos
principais motivos para uma descrença na política se deve evidente a corrupção,
mas também ao fato do político esquecer de porque ele foi eleito. A eleição de
um candidato quando o povo não se vendeu está relacionada a esperança de um
novo tempo, na educação, saúde, e outras áreas.
Sempre
que converso com um político pós eleição ele defende tudo menos o povo que
passa a ser para ele, depois de eleito, um problema a ser evitado. A blindagem
que a máquina oferece ao político é a mesma blindagem que mata a república. O
povo sabe que vai colocar aquele candidato no poder, mas a sua frustração é
certa.
O
secretário defende o prefeito e aqueles que forma parte de um círculo
administrativo. A máquina estatal massacra as pessoas com o seu excesso de
poder exercido por seus leais súditos.
Poder
e a máquina estatal
“Em
seu significado mais geral, a palavra Poder designa a capacidade ou a
possibilidade de agir, de produzir efeitos. Tanto pode ser referida a
indivíduos e a grupos humanos como a objetos ou a fenômenos naturais (como na
expressão Poder calorífico, Poder de absorção). Se o entendermos em sentido
especificamente social, ou seja, na sua relação com a vida do homem em
sociedade, o Poder torna-se mais preciso, e seu espaço conceptual pode ir desde
a capacidade geral de agir, até à capacidade do homem em determinar o
comportamento do homem: Poder do homem sobre o homem. O homem é não só o sujeito,
mas também o objeto do Poder social. E Poder social a capacidade que um pai tem
para dar ordens a seus filhos ou a capacidade de um Governo de dar ordens aos
cidadãos. Por outro lado, não é Poder social a capacidade de controle que o
homem tem sobre a natureza nem a utilização que faz dos recursos naturais”.
Bobbio
O bem
comum e a República.
Todas
as vezes que pensamos em bem comum temos que conceber a ideia de uma sociedade
onde os indivíduos através de contrato se organizam. Não existe bem comum sem
um pacto, sobre o qual se define o que é bem comum e como este bem comum deve
ser usado. Só podemos eleger bem comum na res pública. A eleição do bem comum
deve priorizar a ação de quem exerce o poder.
Neste
sentido podemos entender que:
“Na
moderna tipologia das formas de Estado, o termo República se contrapõe à
monarquia. Nesta, o chefe do Estado tem acesso ao supremo poder por direito
hereditário; naquela, o chefe do Estado, que pode ser uma só pessoa ou um
colégio de várias pessoas (Suíça), é eleito pelo povo, quer direta, quer
indiretamente (através de assembleias primárias ou assembleias
representativas). Contudo, o significado do termo República evolve e muda profundamente
com o tempo (a censura ocorre na época da revolução democrática), adquirindo
conotações diversas, conforme o contexto conceptual em que se insere”.
BOBBIO
O
conceito de res pública deve ser compreendido para uma melhor escolhermos
aqueles que irão ocupar algum cargo de representatividade.
“Com res publica os romanos definiram a
nova forma de organização do poder após a exclusão dos reis. É uma palavra nova
para exprimir um conceito que corresponde, na cultura grega, a uma das muitas
acepções do termo politeia, acepção que se afasta totalmente da antiga e
tradicional tipologia das formas de Governo. Com efeito, res publica quer pôr
em relevo a coisa pública, a coisa do povo, o bem comum, a comunidade, enquanto
que, quem fala de monarquia, aristocracia, democracia, realça o princípio do
Governo (archia). Foi Cícero sobretudo quem definiu conceptualmente o
significado de res publica, ao demonstrar que por povo se há de entender
"non omnis hominum coetus quoquo modo congregatus, sed coetus moltitudinis
iuris consensu et utilitatis communione sociatus" (De Republica, I, 25)”.
BOBBIO
3.
CONTEXTUALIZAÇÃO
4. ATIVIDADES
Produzir uma dissertação.
MORA, José Ferrater. Dicionário
de Filosofia. Lisboa, Dom Quixote: 1978.